sexta-feira, 12 de março de 2010


MEMORIAS DE UMA
DIRETORA DE ESCOLA

Nº 04



Mais um dia de aula havia se iniciado. Já estava no meio da segunda aula, por volta das 8:30 horas, quando uma servente entrou na sala dos professores onde eu me encontrava e me falou baixinho:
- Dona Thelma, tem uma bomba no banheiro das meninas. Está atrás do vaso sanitário.
Achei que ela estivesse brincando, ou eu não havia escutado bem.
- Uma bomba? – perguntei espantada.
- É – respondeu a servente.
Neste instante chegou a inspetora de alunos gritando que havia uma bomba. Pedimos, eu e a servente, que ela falasse baixo pois, os alunos poderiam escutar.
Fui com a servente até o banheiro e, atrás do vaso sanitário, avistei dois canos de PVC atados por uma fita adesiva parda, dos quais saiam alguns fiozinhos coloridos que terminavam colados num relógio de pulso com uma pulseira branca cortada e presa pela mesma fita adesiva.
Pensei em pegar e jogar fora, porém, se aquilo fosse uma bomba de verdade, eu poderia ficar machucada ou algo pior. Pedi às serventes que fechassem o banheiro e voltei para minha sala.
Comuniquei o fato à coordenadora Teresa e resolvemos ligar para a policia de Agudos.
Os policiais e o Sargento de Agudos verificaram o artefato sem tocá-lo e decidiram ligar para a policia de Lençois Paulista, a qual o batalhão de Agudos é subordinado. Quando os policiais de Lençois Paulista chegaram, decidiram ligar para a policia de Bauru, pois lá existiam policiais que sabiam desativar bombas.
O horário do intervalo chegou e os alunos saíram para o recreio. Utilizando os funcionários da escola, conseguimos que todos ficassem longe do local da bomba. O Capitão de Lençois Paulista achou que os alunos não poderiam continuar na escola e pediu que eu os dispensassem.
O tempo ia passando e chegou a policia de Bauru, trazendo um Coronel. Também eles perceberam que não tinham condições de desativar a tal bomba.
O Coronel me chamou e disse que a partir daquele momento quem dava todas as ordens na escola seria ele. Se instalou na minha sala e ligou para São Paulo. Mais tarde ele me comunicou que havia chamado o Esquadrão Anti Bombas de São Paulo, que estava vindo para Agudos de helicóptero.
O horário do almoço passou e a mãe da Teresa, com pena de nós, enviou coca-cola e sanduiches.
Os professores do período da tarde nos ajudaram a explicar para os alunos desse período o que estava acontecendo e manda-los de volta para casa.
Quanto mais o tempo passava, mais gente se aglomerava na rua da escola, esperando o desfecho. Os jornalistas também chegavam, pedindo entrevistas e noticias. Fugi de todos eles pois, quem mandava na escola era o Coronel.
Por volta das 15:40 horas o helicóptero desceu no campo do Ex- Tiro de Guerra e vários carros da policia foram até lá buscar os policiais de São Paulo.
Quando eles chegaram, o Coronel me chamou e pediu que todos da escola fossem para a rua.
Não sei de onde surgiu um caminhão do Corpo de Bombeiros, que ficou estacionado na Rua Major Gasparino de Quadros, bem na direção dos banheiros, com um bombeiro em cima do caminhão, já com uma mangueira de água na mão, aguardando a explosão.
Os policiais de São Paulo vestiram as vestimentas especiais e entraram no banheiro. De repente escutamos uma explosão abafada e um minuto depois, o tenente de São Paulo veio até o portão com um saco plástico com os pedaços dos canos dentro. Parou no portão e disse:
- Era apenas um artefato. Tudo não passou de uma brincadeira.
Atrás dele veio o Coronel com os outros policiais, me chamou e afirmou que a partir daquela hora, a escola voltava ao meu comando. Dizendo isso, se retirou. Todos os policiais o acompanharam e a escola ficou vazia.
Eram 16 horas e recebi a noticia, por um policial de Agudos, que eu tinha que ir até a Delegacia de Policia para fazer um Boletim de Ocorrência.
Após dar algumas ordens aos funcionários, me dirigi à Delegacia de Policia, fugindo da TV Globo, cujo reporter havia chegado quando o policial de São Paulo estava mostrando os pedaços do artefato, e agora queria entrevista.
Lá fiquei até as 16:40 horas. Até que foi rápido, pois parecia que todos estavam a minha espera.
Quando cheguei  em casa é que percebi o quanto estava cansada.

( continua )

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