terça-feira, 23 de março de 2010

MEMÓRIAS DE UMA DIRETORA DE ESCOLA

Nº 04 (CONTINUAÇÃO)

No dia seguinte começamos a investigação.
Primeiro conversamos com as serventes e a inspetora de alunos. As serventes disseram que o banheiro foi limpo antes do inicio das aulas e que durante a primeira aula, uma das serventes esteve dentro do banheiro e não havia nada. A inspetora de alunos não havia visto nada de diferente.
Baseada nas palavras das serventes, eu e Teresa chegamos a conclusão de que a colocação do artefato havia acontecido entre a primeira e a segunda aula. Passamos então a questionar os professores sobre quais alunos haviam entrado tarde na segunda aula. Pedimos que cada professor fizesse uma lista.
Quando o policial da Ronda Escolar chegou entregamos a lista a ele e solicitamos que conversasse com cada aluno e tentasse descobrir o autor.
Durante uma semana o policial conversou com os alunos até descobrir.
Por exclusão, o policial chegou primeiro a classe, 1ª série A do Ensino Médio, composta de jovens entre 14 e 16 anos. Ao conversar com os alunos da classe, o policial afirmou que já sabia quem era, mas queria saber o motivo.
Um dos alunos acabou contando que, Celso havia desafiado os alunos da classe, que pararia a escola por um dia.
Celso, aluno evadido várias vezes da 1ª série do Ensino Médio, já com 22 anos, solicitou, no inicio do ano matricula para o período da manhã, com a desculpa que trabalhava à noite, e que precisava estudar para continuar no trabalho. Mesmo sabendo que era um aluno problema, a escola resolveu que deveria dar mais uma chance a ele. Foi colocado na 1ª série A, para que ficasse mais quieto. Porém, o que aconteceu foi que ele, por ser mais velho, resolveu dominar a classe.
A aposta foi feita num dia e no dia seguinte Celso trouxe o artefato. Quando terminou a 1ª aula, Celso saiu da sala, foi até o banheiro e percebendo que a inspetora de alunos estava distraída, entrou no banheiro feminino e colocou o artefato.
Durante a semana de investigação, Celso se exibia para os alunos, dizendo que jamais descobririam e tinha certeza que ficaria impune.
Quando o policial o chamou, Celso pensou que poderia escapar com facilidade. Porém, o policial foi apertando o interrogatório e Celso não teve saída a não ser confessar.
Foi levado para a Delegacia de Policia, onde teve inicio o inquérito e posteriormente o processo.
Quase um ano depois fui chamada para depor no fórum local. Lá chegando fui encaminhada à sala de audiência onde fui colocada de frente para o Juiz de Direito e para o escrivão.
O juiz me questionou sobre o acontecimento pedindo que descrevesse o artefato. A pergunta que mais me impressionou foi feita pelo advogado do aluno, que perguntou por que eu não havia pego a bomba com a mão e resolvido o problema. Respondi que se nem os policiais, que entendem do assunto, pegaram aquilo com as mãos, porque eu iria pegar, com o risco de perder as mãos, ou até a vida. exatamente, a policia.
Fui interrogada por mais alguns instantes e depois dispensada.
O resultado do processo eu jamais soube. Porém o que correu pela cidade é que o aluno foi condenado a pagar a viagem dos policiais de São Paulo até Agudos, cujo valor variava entre R$ 15.000,00 e R$ 17.000,00.
Quanto à escola, o aluno Celso nunca mais apareceu, e nenhum outro aluno teve a luminosa idéia de colocar mais bombas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário